Por Juarez Antonio de Sousa, mastologista, professor da FM/UFG
A Ultrassonografia consiste no emprego do ultrassom, modo B, utilizando transdutor linear com frequência acima de 7,5 MHz. É o método de imagem, não invasivo, mais utilizado como adjuvante na avaliação das doenças mamárias e não contém radiação ionizante. Tem baixo custo, ampla disponibilidade, e permite exame em tempo real para orientação dos procedimentos percutâneos. É um exame operador dependente e necessita de um médico experiente e conhecedor da anatomia e patologia mamária. Tem menor sensibilidade nas mamas adiposas, sendo limitado na avaliação de microcalcificações.
A ultrassonografia é indicada para avaliação de pacientes sintomáticas, sendo o exame de escolha para as mulheres abaixo de 35 anos. É fundamental na elucidação de achados inconclusivos detectados durante o rastreamento mamográfico, avaliação de implantes de silicone, mamas densas, pac ientes de alto risco, acompanhamento de pacientes operadas e orientação de procedimentos percutâneos. Os implantes de silicone rotos podem apresentar dois sinais ultrassonográficos: sinal da “tempestade de neve” quando a rotura for extracapsular (Figura 1), e sinal da “escada” ou “escadinha” quando a rotura for intracapsular.
Os achados principais são os nódulos sólidos, cistos (Figura 2), calcificações grandes, alterações ductais, distorção arquitetural, alterações de pele, linfonodos intramamários e axilares, corpo estranho (clipes metálicos, fios de sutura, cateteres e implantes de silicone), coleções líquidas e alterações pós-cirúrgicas. Os nódulos são descritos de acordo com a forma, margem, orientação, padrão de ecogenicidade, aspecto acústico posterior e relações sobre o tecido adjacente (Figuras 3 e 4). O laudo deve seguir a padronização do sistema BI-RADS®.
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Figura 2. BI-RADS 2. A e B. Ultrassonografia de mamas evidenciando cistos simples. Padrão anecóico e reforço acústico posterior.
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Figura 3. BI-RADS 3. Ultrassonografia de mamas. A. Nódulo sólido com padrão hipoecóico, e reforço acústico posterior. B. Peça cirúrgica (fibroadenoma).
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Figura 4. BI-RADS 5 (câncer de mama). A e B. Ultrassonografia de mamas apresentando nódulos suspeitos, de forma irregular, margens indistintas e orientação vertical.
Um dado adicional na avaliação ecográfica é a Elastografia que analisa o endurecimento como característica de nódulos e tecidos circunjacentes, obtido por meio de tensão do nódulo (compressão) ou por aplicação de energia ultrassônica. A dopplerfluxometria ainda apresenta resultados de estudos de acurácia ainda divergentes, dificultando sua incorporação na prática clínica. A ultrassonografia automatizada é uma nova tecnologia promissora que pode ser útil no rastreio do câncer em mulheres com tecido mamário denso.
PAAF – Punção aspirativa por agulha fina
A PAAF – punção aspirativa por agulha fina possibilita o diagnóstico citológico da lesão. É um método simples, de baixo custo e realizado em ambiente ambulatorial. A PAAF pode ser realizada sem auxílio de métodos de imagem (a mão livre), quando a lesão for palpável ou guiada por ultrassonografia, mamografia (estereotaxia) ou ressonância, quando a lesão não for palpável (Figura 5)
Figura 5. Punção aspirativa por agulha fina.
Para realização do método, utiliza-se antissepsia e anestesia local com lidocaína 2%, um citoaspirador, onde se acopla uma seringa de 10 ou 20 ml, com agulha de fino calibre. Dá-se preferência para as agulhas mais longas, de 30 mm e fino calibre, que podem ser de 0,6 (azul), 0,7 (preta) ou 0,8 mm (verde). Reserva-se as agulhas de maior calibre, como por exemplo 40 x 12 (rosa) ou 40 x 15 mm (branca) para punções de lesões de conteúdo denso (espesso), grandes seromas e abscessos. Para a anestesia, utiliza-se agulhas, semelhantes às insulínicas, de 13 x 0,45 mm. O transdutor deve ser protegido com preservativo pela possibilidade de contaminação por sangue e outras secreções (Figura 6).
Figura 6. Punção aspirativa por agulha fina. Citoaspirador acoplado a uma seringa de 20 ml, agulha 30 x 0,8 mm. Seringa de 5 ml e agulha 13 x 0,45 mm para anestesia local. Lâminas e fixador. Agulhas de maior calibre, 40 x 12 (rosa) e 40 x 15 mm (branca) para punções de lesões de conteúdo denso (espesso), grandes seromas e abscessos.
O material aspirado é preparado em lâminas por esfregaço fino. A fixação pode ser feita em álcool absoluto (96º) ou citofixadores, quando a coloração for pelo método de Papanicolaou ou Hematoxilina-Eosina (HE), ou esfregaços secos ao ar, sem nenhuma fixação, quando empregada outra coloração especial, como, por exemplo, Giemsa, Panótico Rápido® ou Diff-Quik®. Outra opção seria a citologia em base líquida que é processada e homogeneizada em sistemas específicos, com enriquecimento celular, melhorando a visualização em fundo limpo. São confeccionadas lâminas que serão coradas posteriormente pelos métodos já citados.
A PAAF pode ser indicada em cistos, nódulos sólidos benignos e suspeitos, lesões complexas sólido-císticas, linfonodos axilares e seromas pós-cirúrgicos.
A citologia do derrame papilar deve ser solicitada e interpretada com cautela, somente em alguns casos selecionados, pelo baixo valor preditivo positivo do método, com índices de falso negativo em torno de 50%.
Biópsia por agulha grossa
A biópsia por agulha grossa permite o estudo histológico da lesão. É simples e confortável, amplamente disponível e ambulatorial. Pode ser orientada por ultrassonografia, mamografia ou ressonância magnética ou à mão livre quando a lesão for palpável. Também conhecida como biópsia de fragmento, tru-cut ou core biopsy, sendo mais barata que a mamotomia e cirurgia. Utiliza-se um dispositivo ou pistola acionado com molas que propulsionam a agulha através da lesão. A agulha, que é descartável, tem em média 12 cm e calibre 14 G (Figura 7 e 8). São obtidos de 3 a 5 fragmentos, sob anestesia local com lidocaína a 2%, e fixados em formol, que posteriormente serão processados e corados pela Hematoxilina-Eosina (HE). A mamotomia (biópsia vácuo-assistida) pode ser feita guiada por ultrassonografia, mamografia e ressonância magnética. Utiliza-se mesa adequada e tem a vantagem de retirar fragmentos maiores em tamanho e em quantidade. No entanto, exige equipamento apropriado e custo operacional maior que a core biopsy. Sua melhor indicação são as microcalcificações suspeitas
Figura 7. Biópsia por agulha grossa ou core biopsy. Dispositivo ou pistola. Agulha descartável, 12 cm e calibre 14 G. Lâmina número 11 para incisão da pele e anestésico local.
Figura 8. Biópsia por agulha grossa ou core biopsy.
Biópsia por PUNCH
A biópsia da pele da mama por punch é um procedimento ambulatorial realizado sob anestesia local, utilizando um cilindro cortante de 4 ou 5 mm (punch), que ao ser girado se aprofunda na pele e permite a remoção de um cone com as várias camadas da pele, incluindo epiderme, derme e tecido celular subcutâneo (Figura 9). O fragmento é fixado em formol e posteriormente processado e corado pela Hematoxilina-Eosina (HE) para diagnóstico histológico. O punch é indicado na suspeita de acometimento da pele por doenças da mama, tais como: eczema de aréola e mamilo, câncer de Paget e carcinoma inflamatório.
Figura 9. Biópsia por punch dermatológico
Localização pré-operatória de lesões impalpáveis
A localização pré-cirúrgica de lesão não palpável pode ser feita com fio metálico (agulhamento), marcada com carvão ativado, azul patente V, ou com tecnécio -99. O procedimento pode ser orientado por ultrassonografia, mamografia e ressonância magnética, sendo a ultrassonografia o método de escolha, pelo menor tempo de realização e maior conforto para a paciente. Classicamente, o fio guia metálico tem um sistema de gancho ou anzol que fixa a área a ser ressecada. Uma vez marcada a lesão mamária, a paciente é submetida a ressecção em ambiente cirúrgico sob anestesia adequada.
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